Dia
de Sao Joao faz quarenta e oito anos que aconteceu…Era a primeira vez que eu
ía na festa do seu bairro, junto com os seus pais. Era como se dizia naquele tempo a aprentaçao oficial da nossa
relaçao. Engraçado desde o bairro do Coxo até o Mandaqui passando pelo bairro
de Santa Inês todos os moradores sabíam do nosso namoro...
Antes
do acontecimento, eu, receava que alguna coisa podia sair errada. Era tao
difícil sair. A escrava tinha que deixar em casa todo bem feito. Lembro, amolei
a todas as amigas e vizinhas para decidir que roupa levar. A comemoraçao era na casa dos amigos da sua
familia. Eu queria agradar estar da melhor maneira possível o problema era que nao
sabía se o grupo iría vestido de caipira
ou nao.
Entre
os conselhos de umas e outras decidí ir vestida com aquilo que tinha, calça comprida e gilê preto e camisa branca.
Dí um jeitinho acaipirado na vestimenta com as botas, o lenço no pescoço e o
chapeú de palha. Nao lembro se levava o cabelo solto ou arrumado na nuca, mais
lembro da flor vermelha. Sei que fizeram
fotos. Nao tenho nenhuma.
Antes
da hora nao contei as vezes que fui a cozinha e abrí a geladeira. Nao posso
dizer as vezes que me olhei no espelho de frente e de perfil. Nao quero
recordar aquela angustia, medo, inseguridade e a terrível timidez que fazia as
minhas maos derreter em
suor. Deseja ir. Nao ir. Correr e ¡mandar todo pro inferno!
Tinha
vontade, necessidade, precisava contar-lhe todas as minhas magoas, desejos,
segredos e ilusoes. Mais nao podia eram tempos da mais absoluta solidao expressiva.
Aquela incertidao, os ciúmes corroendo o coraçao, a vergonha da minha
ignorancia, da diferença social e os
complexos ocultos faziam a relaçao difícil, quase, quase, insuportável.
Acontecia que eu estava tao apaixonada que no instante em que ele me olhava esquicia do peso e sofrimento que carregava.
No
momento de sair de casa o meu pae, olha
que…, se você…já sabe…as dez em ponto…se nao…pego “la escopeta y hago
salchichas”. A minha mae perguntando…você
lavou a louça? E as camisas deixou passadas? Vai pro centro e me traz…
Afortunadamente
aquele día nao foi preciso levar a
nenhum dos meus irmaos como companhia. A maioria das vezes era a minha irma quem
vinha com nós. O día que nos acompañaba o meu irmao era um verdadeiro desastre.
Graças a Deus fui “a festa do bolinha sozinha”.
Era, o limao, carinhoso e protetor. Jamais me proibiu nada, com ele, eu, me sentía
segura, protegida, querida, livre, livre, livre e feliz. Lembro que nada mais
chegar ele sorrindo me assobiou… Eu lhe
preguntei, “você acha que vou bem assim?”, e sem deixar de sorrir nem de assobiar assentia com a cabeça.
Chegamos
na festa...Nossa! -O meu disco duro
quebrou- Nao posso descrever o lugar, nem a casa, nem as suas
gentes. Nao lembro nada, nada de nada. Só as palavras que laceraram o meu ser
ficaram gravadas. Só lembro da caida no buraco. Só do contato com aquela terra
vermelha e sedosa que depois de quase trinta anos eu voltei, me ajoelhei e beijei.
*Maria
Bethânia
Carcará
María
Evangelina Cobo Zaballa
Castro-Urdiales (Cantabria)