lunes, 24 de junio de 2013

FESTA JUNINA 1965




Dia de Sao Joao faz quarenta e oito anos que aconteceu…Era a primeira vez que eu ía na festa do seu bairro, junto com os seus pais. Era como se dizia  naquele tempo a aprentaçao oficial da nossa relaçao. Engraçado desde o bairro do Coxo até o Mandaqui passando pelo bairro de Santa Inês todos os moradores sabíam do nosso namoro...
Antes do acontecimento, eu, receava que alguna coisa podia sair errada. Era tao difícil sair. A escrava tinha que deixar em casa todo bem feito. Lembro, amolei a todas as amigas e vizinhas para decidir que roupa levar.  A comemoraçao era na casa dos amigos da sua familia. Eu  queria agradar estar da melhor maneira possível o problema era que nao sabía se o grupo iría  vestido de caipira ou nao.
Entre os conselhos de umas e outras decidí ir vestida com aquilo que tinha, calça comprida e gilê preto e camisa branca. Dí um jeitinho acaipirado na vestimenta com as botas, o lenço no pescoço e o chapeú de palha. Nao lembro se levava o cabelo solto ou arrumado na nuca, mais lembro da flor vermelha.  Sei que fizeram fotos. Nao tenho nenhuma.
Antes da hora nao contei as vezes que fui a cozinha e abrí a geladeira. Nao posso dizer as vezes que me olhei no espelho de frente e de perfil. Nao quero recordar aquela angustia, medo, inseguridade e a terrível timidez que fazia as minhas maos derreter em suor. Deseja ir. Nao ir. Correr e ¡mandar todo pro inferno!
Tinha vontade, necessidade, precisava contar-lhe todas as minhas magoas, desejos, segredos e ilusoes. Mais nao podia eram tempos da mais absoluta solidao expressiva. Aquela incertidao, os ciúmes corroendo o coraçao, a vergonha da minha ignorancia, da diferença social e os  complexos ocultos faziam a relaçao difícil, quase, quase, insuportável. Acontecia que eu estava tao apaixonada que no instante em que ele me olhava  esquicia do peso e sofrimento que carregava.  
No momento de sair de casa o meu pae,  olha que…, se você…já sabe…as dez em ponto…se nao…pego “la escopeta y hago salchichas”.  A minha mae perguntando…você lavou a louça? E as camisas deixou passadas? Vai pro centro e me traz…
Afortunadamente aquele día nao foi preciso levar  a nenhum dos meus irmaos como companhia. A maioria das vezes era a minha irma quem vinha com nós. O día que nos acompañaba o meu irmao era um verdadeiro desastre. Graças a Deus fui “a festa do bolinha sozinha”.
Era, o limao, carinhoso e protetor. Jamais me proibiu nada, com ele, eu, me sentía segura, protegida, querida, livre, livre, livre e feliz. Lembro que nada mais chegar ele sorrindo me assobiou…  Eu lhe preguntei, “você acha que vou bem assim?”, e sem deixar de sorrir  nem de assobiar assentia com a cabeça.
Chegamos na festa...Nossa!  -O meu disco duro quebrou- Nao posso descrever o lugar, nem a casa, nem  as  suas gentes. Nao lembro nada, nada de nada. Só as palavras que laceraram o meu ser ficaram gravadas. Só lembro da caida no buraco. Só do contato com aquela terra vermelha e sedosa que depois de quase trinta anos eu voltei, me ajoelhei  e beijei.

*Maria Bethânia
Carcará


María Evangelina Cobo Zaballa
Castro-Urdiales   (Cantabria)